Depoimentos de Testemunhas de Jeová

"Não há saída honrosa dessa religião!"

Leonard Chretien, autor do livro "Por dentro da Torre de Vigia" (em inglês)

        Desde a criação da mail list "Testemunhas", bem como durante o período de desenvolvimento desta HP, temos tido contatos enriquecedores com  "Testemunhas (ou ex-Testemunhas) de Jeová". A partir desse contato, diversas delas sentiram-se motivadas a relatarem sua experiência enquanto membros deste movimento religioso. Os relatos dramáticos feitos por inúmeras pessoas parece contradizer uma tese bastante difundida entre as Testemunhas: a de que sua comunidade constitui um autêntico 'paraíso espiritual' - uma espécie de antecipação de um 'Novo Mundo', habitado por um 'povo escolhido',  onde as transgressões humanas tem baixíssima incidência. Deveras, a edição de 15 de março de 1986 da revista A Sentinela afirma que apenas entre as Testemunhas de Jeová pode-se usufruir tal condição paradisíaca. A despeito de tal otimismo, até hoje não se pôde, à base de dados estatísticos confiáveis, aferir a 'moralidade' de qualquer grupo religioso como superior ou inferior àquela professa pelos  demais. Ainda assim, a maioria das Testemunhas acha-se disposta a crer piamente na tese acima citada, destacando-a como um 'sinal distintivo' dos verdadeiros cristãos nos tempos hodiernos. É fato que dentro da comunidade das Testemunhas poderiam ser colhidos inúmeros depoimentos de júbilo - ex-drogados e ex-criminosos reabilitados ou pessoas que estiveram à beira do suicídio e que agora encontraram na nova fé uma motivação para viver. Todavia, também é fato que tal testemunho não é exclusividade de uma religião em particular, pois  dezenas de outras denominações religiosas - evangélicos, católicos carismáticos, espíritas etc. - também reivindicam 'testemunhos de libertação'. Basta que alguém entre em um templo ou assista a um programa de gospel na TV e poderá ouvir emocionados relatos de conversão. E não há razão plausível para duvidar da sinceridade daqueles que assim se expressam. Assim sendo, o que merece ser considerado em cada caso é o preço a ser pago por tal realização espiritual - muitos, mais tarde, descobriram ser alto demais. Por outro lado, raramente as Testemunhas de Jeová tomam conhecimento das reais razões pelas quais uma parcela de seus membros tem desertado do movimento - as alegações desses últimos não são levadas ao conhecimento dos demais.  As Testemunhas preferem presumir que sempre são desonrosas as motivações dos que abandonam suas fileiras. Parte da história permanece, assim, na obscuridade. As lacunas deixadas, por sua vez, não raramente dão margem à maledicência alheia, a qual finda por lançar desonra sobre a reputação daqueles que saem. Por outro lado, o público em geral não tem conhecimento do tratamento dispensado pela instituição aos dissidentes. É, pois, em nome da transparência em assuntos religiosos e da liberdade de expressão que aqui concedemos espaço aos depoimentos dessas pessoas.  Deixemos que elas mesmas falem. A busca da verdade não tolera a supressão de evidências. Cremos sinceramente que os relatos aqui contidos ajudarão o leitor a conhecer os bastidores dessa comunidade religiosa, familiarizando-o com os reais problemas com que cada Testemunha de Jeová se confronta em seu cotidiano. Só assim poderemos avaliar se os benefícios prometidos valem o preço pago por eles...

(Os nomes dos depoentes ou de pessoas por eles citadas foram omitidos, de modo a assegurar-lhes privacidade e, ao mesmo tempo,  resguardá-los contra represálias religiosas ou judiciais. Abriu-se exceção apenas por permissão expressa do depoente.)

 

Índice

 

  1. "Vida e Morte no Poder da Língua"

  2. Conformidade de Grupo?

  3. Frieza 'Cristã'

  4. 'Matrix'

  5. A Justiça dos Homens

  6. Carta de Dissociação

 

 

 

"Vida e Morte no Poder da Língua"

Início

R., Brasil, 29/9/1999 

 

     Já se passaram cerca de 12 anos que esta história aconteceu. Eu tinha entre meus 16 e 17 anos. Era uma cristã embora jovem, mas com o fervor de   uma consciência treinada  no trabalho de pioneira. Resolvi escolher um jovem, filho de um ancião, para ser o meu primeiro namorado e poder servir ao meu lado e lealmente a meu amado Deus. Me apaixonei arduamente por este irmão, a ponto de esquecer barreiras sociais, e até intelectuais. Ao enfrentar meus pais, tive forças para ultrapassar qualquer outro empecilho e demonstrar  meu sincero amor por este irmão. Porém, não imaginava que iria passar também por uma prova de fé tão severa. Em face aos anos em que ficamos juntos, comecei a enfrentar o problema que, em algum momento, vem a todos os jovens namorados. As nossas intimidades, que insistiam em aumentar, me levaram a procurar ajuda de meus anciões. O que não me deixava satisfeita é que nunca chamaram meu noivo para poder ter uma conversa com ele e também ajudá-lo. Minhas visitas eram freqüentes. O nosso relacionamento estava muito abalado. Já não sabia até que ponto ele realmente me amava. Cheguei a me convencer de que ele estaria comigo apenas até o momento em que eu cedesse. Foi um longo tempo de desgaste emocional e longas noites de consciência abalada. O pior é que ninguém se mostrou interessado em nos ajudar. Talvez por ele ser filho de um ancião e também por estarmos em um tempo bem próximo ao nosso casamento. Mas isso não me protegeu das seqüelas. Em uma noite, cerca de um mês antes de nosso casamento, em minha casa,  meu noivo me acordou em longos beijos e intimidades que me levaram, no dia seguinte, a imaginar que tinha cometido o maior de todos os pecados. Sem ele saber me dirigi a um ancião e lhe contei o que tinha acontecido. A verdade é que nem eu mesmo sabia ao certo o que tínhamos feito.

 

     Chegou o dia da minha comissão judicativa. Esta ocorreu na presença de um Superintendente de Distrito e de mais três anciões maduros. A situação não era nada agradável, meu noivo não estava nem um pouco satisfeito com minha atitude, seu pai também me olhava com ar de desagrado. Até que no momento da reunião - a sós com estes irmãos - o peso foi maior do que imaginava. As perguntas eram embaraçadoras, tudo me levava a total inutilidade, me sentia o pior dos seres humanos. A vergonha era terrível. Confirmei tudo, afinal estava me sentido muito mal por ter errado. Mas mesmo assim, acreditava que Jeová ainda me amava e estava disposta a fazer qualquer coisa para agradá-Lo. Não sei o que se passou na comissão do meu noivo, só sei que ele não estava nada satisfeito com aquela situação e me condenava muito por isto.

 

     A decisão era para ter sido rápida, porém um fato novo acontecera - o que era para ter sido guardado conosco, estava no conhecimento de meu irmão carnal e sua esposa. Não é difícil imaginar o que se sucedeu. Sua esposa fez questão de relatar "para apenas alguns irmãos", membros de sua família o que me acontecera, afinal era um bom "noticiário". Não satisfeitos, ainda 'rechearam' o relato de "lindas" estórias de traições e de uniões com outros homens que davam lindos dotes por noites vividas comigo. Fizeram ainda o 'favor' de dizer aos meus pais o que bem quiseram e de levar o caso "cuidadosamente a apenas mais alguns amigos". A situação terminou quando minha mãe me expulsou de casa. Meu irmão e sua esposa não falavam mais comigo, meu noivado estava acabado e, por cima, ainda descobri que o causador de tudo isto era um 'adorável e manso'  irmão, que não participara da comissão, mas que, por ligações a um membro, tomou conhecimento do assunto da forma que melhor lhe satisfez e, a partir daí, resolveu tomar as dores de meu irmão carnal e fazer julgamento público de mim.

 

     A punição sem dúvida alguma não agradou a todos, afinal eu era a nova 'Jezabel', tinha de ser jogada aos cães. O fato de ter sido apenas repreendida em público causou grande repercussão na congregação. Não se satisfizeram até o dia de hoje com tal ato de misericórdia. Não se conformaram mais ainda com o fato de meu noivo ter sido desassociado. Me senti o próprio pecado. Não sabia a quem recorrer. Não tinha mais noivo, nem irmão, nem mãe, nem congregação. Todos 'sabiam', e da forma deles, o que eu supostamente fiz. Surpreendia-me com cada novidade sobre atos cometidos por mim que as pessoas espalhavam. Por onde passava, os cochichos me seguiam: "Lá vai ela, a espertalhona que enganou o noivo, desassociou-o, enganou a todos com esta cara de santa. Há, ainda tem uma 'cobertura' na praia com um homem mais velho. Ele que paga suas lindas roupas. Como ela é cínica!".

 

     Eu só tinha 17 anos, nunca tive outra experiência amorosa, acreditava em meus irmãos, acreditava na congregação, acreditava na confissão de meus pecados aos designados por Jeová como instrumento dele de ajuda. Até hoje não sei onde errei tão severamente. Será que foi por ter procurado ajuda de meus irmãos? Será que errei quando acreditei que isto fortaleceria minha união com meu amado noivo e com meu Deus? Tudo estava acabado para mim, minha juventude, minha pureza, minha lealdade a meus princípios, estava exposta a quem quisesse jogar a primeira pedra. Até hoje, neste momento, ainda sinto meu coração apertar, ainda choro aquelas lágrimas que nunca deixaram meu rosto. Ainda sinto os olhares, os falatórios, o suposto amor que perdi. Ainda sinto a minha vida quase acabada em um gole de veneno. Ainda sinto as mãos daquele amigo, hoje marido, que me impediu de concretizar tal ato. Embora não saiba se realmente era para ter acontecido assim, acho que  deveria tudo ter acabado ali, nada deveria ter continuado. Nem mesmo a vida...

 

 

Conformidade de Grupo?

Início

W., Brasil, 5/7/2000 

 

Minha experiência pessoal 

 

     Desiludido, em meio a devaneios e com o coração em pedaços por não ter sido correspondido com uma pessoa a quem eu tanto amava...

     Assim era minha situação quando fui “interceptado” por duas pessoas na porta de minha casa que  começaram a  me falar de um futuro promissor para todas as pessoas puras e sinceras de coração. Eu estava inconformado com minha situação sentimental naquela época , e, por isso, aceitei um “estudo” com aquelas pessoas que se identificavam como “Testemunhas de Jeová”.     

     O inicio foi um tanto duro, pois meus pais eram católicos e não aceitavam a idéia de eu mudar de  religião. Meu pai fez uma tentativa inicial de me desestimular a continuar aquele estudo, me mostrando um artigo que falava sobre “Russel” em uma revista mensal que ele assinava, denominada “Catolicismo”. As graves acusações feitas naquele artigo, não surgiram muito efeito sobre mim. Porque? Porque eu me recusava a acreditar que aquelas pessoas amigáveis, com um sorriso constante pudessem ser representantes de uma religião enganadora... ainda mais porque estavam constantemente a me confortar com palavras amigáveis acerca dos meus problemas sentimentais.  

     Comecei então a freqüentar o “Salão do Reino”. Nas primeiras vezes que fui, foi demais!!! Todas as pessoas vinham ao meu encontro para me cumprimentar e se apresentarem . Quão satisfeito fiquei! Cheguei a conclusão de que ali as pessoas eram amorosas e atenciosas umas com as outras... 'finalmente havia encontrado minha verdadeira família', pensei...     

     Os estudos comigo continuavam. Eu percebia um ligeiro excesso de atenção por parte dos meus instrutores, pois eles eram pontuais, e não faltavam a um estudo sequer. Estranhei aquela atitude, pois jamais havia encontrado pessoas tão atenciosas em relação a minha pessoa daquela forma. Ah, se eu soubesse desde aquela época que a causa daquela atenção era um tal  de “relatório de serviço de campo”...     

     O fato é que eu me senti amado por aquelas pessoas. Meus pais e amigos do mundo já não me criticavam mais frente a frente, mas somente por terceiros. Eu comecei a me sentir afastado tanto de meus amigos como de meus familiares, mas ao mesmo tempo tentava explicar a eles o quão amorosas eram as Testemunhas de Jeová e cheguei até a  pensar que poderia, um dia, levá-los para lá também. O tempo foi passando e, sem que eu percebesse, fui me envolvendo mais e mais com as Testemunhas de Jeová no que se refere ao companheirismo.  

     Certa vez, uma pessoa se aproximou de mim e me mostrou o que estava escrito em João 1:1. Foi a primeira vez que tomei um “pequeno susto” sobre a doutrina em que eu estava. Corri com aquela passagem ao meu instrutor (achando que ele não soubesse). A explicação que me foi dada, todos aqui já conhecem. 'Maravilha!', pensei! 'As TJ são realmente pessoas instruídas e cultas... conhecem até termos em grego e hebraico !!!' Então reforcei mais ainda minha fé naquela organização.  

     O tempo foi passando até que, depois de um ano de estudo, foi me revelado a existência e o real significado do “relatório de serviço de campo”... é claro que eu não iria ficar uma eternidade sem saber!..

     Isso ocorreu em um dia quando eu estava a estudar com meu “amoroso e atencioso” instrutor . Ali, em meio ao estudo, chegou uma outra TJ (que já tinha se tornado um grande amigo meu) em minha casa e fez uma piadinha com meu instrutor. Ele disse : “XXXXX, já chega de 'fazer horas' com o W. !!! Vamos jogar uma bolinha agora!!!”  

     “Fazer o quê???” ,indaguei.  

     “Ué, até hoje seu instrutor não lhe disse o que é o relatório de serviço de campo? Ainda mais agora que você está prestes à se tornar um publicador não batizado?”, respondeu meu amigo.  

     Então fiquei ali conversando de 10 ou 15 minutos. Soube então qual era o real significado dos “relatórios". Fiquei com uma “jaca entalada na garganta” ao saber então que desde o início meu instrutor não me amava e se interessava por mim “exatamente da maneira” que eu pensava, mas sim, que havia um outro pequeno interesse por trás de todas aquelas visitas...  

     Senti-me muito mal, mas já havia, com o tempo, aprendido a gostar daquelas pessoas  e fiquei sem jeito de sequer dar uma “ralada” em meu instrutor por não ter me dito desde o inicio que ele dava “satisfação” aos outros das horas que estudava comigo. Pela primeira vez havia descoberto algo de “estranho” na organização, pensei. Meio já envolvido com aquela turma, me tornei “publicador não batizado”, onde ao mesmo tempo conheci uma  pessoa que viria a ser minha noiva no futuro. Passei seis meses “anestesiado” com a organização e o serviço de campo. Eu sentia satisfação em bater de porta em porta e “vencer objeções” com os mais incautos. Eu achava que Jeová se orgulhava da minha pessoa como defensor de sua palavra - a verdade. Meus discursos eram excepcionais. Meus irmãos diziam que logo haveria mais um ancião naquela congregação.  

     Até que, num determinado dia, depois de meu batismo, no serviço de campo, comecei a argumentar com um morador sobre a questão do sangue. O homem, nada simplório, não se entregou aos meus argumentos (será que eram meus mesmo?) acerca do sangue. Ao contrário disso, ele sem Bíblia, sem nada, simplesmente com palavras mansas,  começou a questionar a posição das TJ em relação ao sangue e o que Deus pensava de tal assunto. Pela primeira vez na minha comecei a desconfiar que poderia haver algo questionável na organização.  

     Naquele final de semana, recolhi-me em meu quarto em intensa oração, pedindo a Jeová que me mostrasse a verdade, ou que me livrasse das influencias de Satanás, se fosse o caso. Comecei a analisar tal doutrina mais a fundo, e cheguei a conclusão de que realmente poderia ter algum "furo", visto que havia a mão de homens no meio. Cheguei então à conclusão que a doutrina da abstinência do sangue, segundo as TJ, estava equivocada. Eu nem pensava em discutir isso com minha noiva pois a mesma, bem como sua família, eram extremamente “teocráticos” . Qualquer assunto fora dos padrões da organização eram considerados 'heresias'. Mas, mesmo assim, não deixei passar a questão do sangue em branco. Continuava estudando.  

     Eu nem sonhava que existiam “apóstatas da verdade” e, portanto, eu não tinha referências, a não ser a própria Bíblia. Então, na minha condição de “apóstata amador”, escrevi uma carta anônima ao Corpo Governante sobre o sangue. Tratava-se de um diálogo fictício entre um servo ministerial e um ancião (veja a reprodução do mesmo em letras azuis no fim desse texto).

     A esta altura, eu já havia notado que meus irmãos não eram tão “cultos” como eu pensava no início, mas que seus argumentos eram repetitivos e mecânicos, baseados nos livros tais como o “Raciocínios”.  

     Eu achava que Jeová havia me escolhido para produzir uma reforma na organização... achava que estava sozinho no mundo. Pensava que os membros do Corpo Governante (CG) não haviam considerado a minha linha de raciocínio a respeito do sangue e que, portanto, poderiam cair em si  e anular esse dogma anti-bíblico. Cheguei até mesmo a pensar que eu iria fazer parte dos 144.000 por ter sido um “canal especial” usado por Jeová para corrigir alguns erros de sua organização !!!  

     Mandei várias vezes essa mesma carta e...nada!!!! Ao contrário disso, vinham orientações do CG que eram passadas aos anciãos em discurso no sentido de tomar cuidado com os apóstatas, pois o cerco estava se apertando! Eu fiquei muito triste e me desanimei, pois me sentia “um” contra “milhões”. Depois de ter já marcado a data de meu casamento, continuei em meus estudos usando apenas a Bíblia , pois como disse, não tinha nenhum outro referencial, a não ser ela. Então, descobri outra coisa estranha... tratava-se do retorno de Cristo em 1914, segundo as TJ. Lendo o capitulo 24 de Mateus, notei que Cristo anunciou que haveria guerras, fome, pestilências, falsos Cristos, falsos profetas, terremotos, e DEPOIS; somente ENTÃO é que veríamos Cristo descendo nas nuvens com poder e grande glória. As TJ pregam tal coisa de forma invertida, ou seja, Cristo voltou em 1914 e DEPOIS tais coisas como terremotos e aparecimentos de falsos Cristos começaram a acontecer. 'E agora?', pensei.

     Pela primeira vez em minha vida estava me sentido sozinho, apesar de tantos irmãos à minha volta.  

     No que diz respeito ao serviço de campo, comecei a notar alguns comentários  estranhos por parte de meus irmãos. Já não eram mais “Vamos pregar e alertar as pessoas do final dos tempos”, mas sim “minhas horas estão fracas esse mês, preciso te acompanhar em teus estudos”, ou ainda “Vamos trabalhar mais 15 minutos, pois assim completaremos  duas horas de registro hoje.” Comecei a me sentir mal com essas coisas. Quando saía no campo, sabia que seria obrigado a defender as doutrinas relativas a  1914 ou a questão do sangue, mesmo sentindo no meu interior que estavam erradas, ou seja, eu seria obrigado a enganar as pessoas. 

     Até que, um dia, comecei a acessar a Internet... aí, descobri que não estava mais sozinho e que existiam muitas pessoas que pensavam como eu. Posso dizer que “a gota d’água” foi quando li um artigo na página do “Irmão brasileiro”  dizendo que o CG não tinha Jesus Cristo como mediador legal entre Deus e os homens. Ali ele citou algumas “Sentinelas” como referencias. Referências essas  que foram prontamente investigadas e confirmadas por mim em pesquisas.  

     Lembro-me até hoje daquele dia. Meu estômago começou a 'embrulhar ' e eu nem mesmo consegui jantar... sentia uma  indescritível  vergonha de Jesus, com o qual eu tentava incansavelmente argumentar : “Meu Senhor, eu não sabia que eles ensinavam isso... perdoe-me!”

     Meu instrutor, que era o ancião residente da congregação, também era o pedreiro que estava construindo a minha casa; o meu futuro lar como homem casado.  No outro dia (sábado) fui bem cedo até a obra e o chamei para dialogarmos. Ali, expus tudo o que havia descoberto na Net, bem como minha idéias sobre a organização. É claro que eu já esperava que ele não conseguiria refutar aquelas matérias... Primeiro, porque eram verdades, e, segundo, porque não lhe foi ensinado pela organização a se defender de tais matérias.  

     Depois de um extenso  diálogo, meu instrutor deu um profundo suspiro e me disse:

     “W., mesmo que me mostrassem que 80% dos ensinamentos da organização são falsos e apenas 20% são verdadeiros, eu  ainda assim continuaria na organização”.  

     O diálogo parou ali e fingi concordar com ele.  

     Uma vez que eu já havia mostrado que tinha entrado em contato com os apóstatas, não seria boa idéia uma discussão. Ao invés disso, disfarcei. Eu disse a ele que iria queimar todo aquele material “apóstata” e que nunca mais tocaria no assunto.

     Mas eu já estava em um grande conflito espiritual. Não sabia com quem conversar, e então decidi trocar umas idéias com outro  TJ, amigo mais intimo meu. Esse amigo me surpreendeu, pois ele concordou em grande parte comigo sobre os erros da organização. Em meio ao nosso diálogo, eu perguntei o que ele achava de pregar aqueles ensinamentos às pessoas de porta em porta mesmo sabendo que estavam errados. Sua resposta:  

     “W., eu transmito às pessoas aquilo que o CG me pede para transmitir.... agora, caberá a cada morador interpretar se aqueles ensinamentos são corretos ou não”.  

     “Sem comentários”, pensei comigo.  

     Nesse momento, parei de dialogar com ele e vim embora para minha casa. Eu já havia decidido em meu coração que não ficaria mais naquela organização falsa e opressiva. Mas havia pelo menos uma pessoa que eu queria tirar de lá - MINHA NOIVA. Primeiro, porque eu a amava muito e, segundo,  porque nosso casamento já estava praticamente todo organizado. Convites prontos, festa paga, enxoval pronto, vestido e terno alugados, aluguel do clube pago, etc e tal...  

     No outro dia, fui até a casa dela e comecei uma conversa bem sutil em termos apóstatas. Esse diálogo “sutil”, durou mais ou menos uma semana. A reação negativa que ela teve foi cerca de dez vezes maior do que eu esperava. Resultado: nós terminamos e eu me dissociei através de uma carta entregue por minha mãe ao meu instrutor e “mestre de obras” da minha casa. Joguei tudo pelo ares, pois, em minha mente, somente vinham duas passagens bíblicas, que eram: 

1- “Todo aquele que preferir seu pai, seus amigos (ou sua noiva) ... ao invés de mim, não é digno de mim””

2- Apocalipse 21:8: “mas enquanto aos covardes, ...assassinos, idólatras... terão seu quinhão no lago que queima como fogo e enxofre.”

  Depois de dissociado, realmente foi difícil superar tal trauma!  

     O principal sentimento ruim era a perda de minha noiva, mas havia também os meus irmãos de fé. Eu saia às ruas temendo encontrar a todo momento meus ex-irmãos  (amigos) e os verem virando seu rosto para mim. Parece que ficar em casa era a melhor coisa a ser feita, pois tinha medo de encarar a realidade.

     REALIDADE? Qual era ela? Era o fato de eu ter saído de uma doutrina enganosa. E foi baseado nesse firme pensamento, juntamente com a ajuda de Deus que consegui superar essa difícil fase da minha vida. Sinto ainda alguns “efeitos colaterais” , mas já estão em  menor intensidade. O tempo, bem como a fé em Deus  são os melhores remédios que existem para esses casos.

 

     *A seguir, o texto que fora repetidas vezes enviados à sede da Sociedade Torre de Vigia:

Dialogo entre um ancião e um Servo Ministerial  

  S- Instrutor, estou passando muita dificuldade no campo no que se refere ao sangue. Por mais que eu explique a questão do sangue, mostrando passagens bíblicas as pessoas, ainda assim não concordam comigo e terminam por me expulsar de suas casas.  

A-   Meu amado, seja forte! A Bíblia nos diz que seriamos odiados e repudiados pelas pessoas do sistema. Agora, quanto ao sangue, infelizmente as pessoas do mundo estão certa - nosso conceito sobre o sangue está errado!  

S- O quê ?? O que está dizendo, irmão? Não sabe que isso é apostasia?  

A-    Sei perfeitamente o que é apostasia, irmão! Mas deixe-me ao menos explicar porque penso assim: primeiro, imagine o que Jesus faria se uma pessoa estivesse morrendo na sua frente por falta de sangue e só houvesse um frasco de sangue ao lado dele ao invés de uma solução salina. Ele permitiria a morte daquela pessoa? Ademais a Bíblia diz em João 15:12-13 que ninguém tem maior amor do que aquele que entrega a sua ALMA em favor de seus amigos. Você sabe onde está a nossa alma para que a entreguemos em favor de nossos amigos?  

S- Não!  

A-    Levítico 17:11-14 nos diz que a Alma da carne está no sangue... a alma de todo o tipo de carne é seu sangue pela alma nele. Logo, daríamos o nosso sangue em favor de nossos amigos. A Bíblia ainda nos diz que o amor cobre uma multidão de pecados. Mesmo que tomar sangue fosse pecado, tal pecado poderia ser encoberto pelo ato de amor que uma pessoa tenha feito no sentido de salvar a vida de seu próximo por doar sangue.  

S- Mas, a Bíblia nos diz para nos abstermos de sangue, irmão!  

A-    Sim, ela nos diz para abstermos de sangue no sentido de ALIMENTO. Observe as passagens sobre sangue em Lev. e Gên - você irá encontrar somente frases do tipo “Não deveis COMER...”, e outras do mesmo sentido.  

S- Mas, no nosso livro “Raciocínios” se diz que uma transfusão é o mesmo que comer sangue, irmão! Assim ele diz: “ Será que alguém que jamais pusesse sangue em sua boca mas que o aceitasse por meio de transfusão, não estaria obedecendo a ordem bíblica de persistir em abster-se de sangue?”

A-    Então eu lhe pergunto: Uma TJ que necessita urgentemente de transfusão, escaparia com vida se BEBESSE solução de Ringer ou dextrano, ao invés de injetá-las nas veias?  

S-    Claro que não! 

A-    Então, transfundir não é o mesmo que comer/beber. No caso do sangue, se o bebermos, ele entrara no nosso organismo como alimento, onde será digerido pelos órgãos da digestão. Se o sangue entrar no nosso organismo através das veias, ele não será considerado como um alimento, mas sim como um VEÍCULO de levar o alimento e o oxigênio para o nosso corpo! É bem diferente!  

S- Realmente, se esta linha de raciocínio, ao meu ver muito lógica e baseada na Bíblia for correta, então porque os irmãos não a consideram no sentido de corrigir tal princípio?  

A-    Imagine então se a sociedade lançar um artigo liberando o uso do sangue por parte dos irmãos. O que você acha que iria acontecer? Imagine a quantidade de irmãos que já perderam seus parentes por seguir tal princípio! Se o uso do sangue agora for liberado, não iria causar-lhes grande tristeza ou até indignação?  Realmente o CG deveria ser bastante humilde e corajoso a ponto de enfrentar todo o tipo de reações negativas que poderiam surgir! Reações essas dos irmãos, e também das pessoas do mundo.  

S- Podemos fazer algo a respeito?  

A-    Deixemos tudo nas mãos de Jeová . Ele proverá a melhor saída!

 

 

Frieza 'Cristã'

Início

M., Brasil, 3/8/1999 

 

 

     ...Foram cerca de 26 anos de vida dedicados a essa organização.  Imagine olhar para trás e ver que, de fato, não fez absolutamente nenhum amigo. Ninguém que se interessasse genuinamente por você. Ninguém que lhe fizesse uma visita, exceto aquelas que, com tanta cerimônia, precisavam ser "marcadas"...tinham hora para começar e hora para terminar. Nunca uma visita espontânea, como aquelas que, durante meu  “ministério”, fazia aos irmãos e irmãs. Por que tudo tinha que ser assim? Era inevitável a comparação com uma grande empresa. Nossos encarregados de setor, "os anciãos" vigiavam tudo o que fazíamos ou deixávamos de fazer, e nossa espiritualidade era medida ao passo que "puxávamos o saco" deles (desculpe-me pela a expressão)... e confesso que eu mesmo fiz isso, porque se não fizesse, não os agradasse, não os respeitasse, não lhes obedecesse, dificilmente a gente teria chance de subir na organização. Vez por outra, por um problema de doença que tivesse ou por depressão, eu talvez não fosse ou me afastasse por algum tempo. Assim que me reabilitava, tinha que ficar agüentando a severidade de um ancião que me colocava numa espécie de geladeira, achando que talvez assim estivesse me "ajudando". Não sei porque a gente acaba dando valor a essas  coisas... a gente gasta do nosso tempo, quando poderíamos estar fazendo tantas coisas e quer, de todas as formas, "ler uma Sentinela", "fazer uma oração", "fazer uma demonstração". 

     Lembro-me de uma ocasião, depois de ter passado um período difícil de depressão, ficar seis meses sem receber uma designação para demonstrações na reunião de serviço. Lembro-me de ter rasgado o “Ministério do Reino”, de tão aborrecido que eu fiquei... Por que damos tanta importância a essas coisas? Fazem-nos crer que são verdadeiros "privilégios". É Engraçado que aqueles que entram na organização e "não pisam na bola" com os encarregados, em dois anos chegam ao cargo de ancião..."se fizerem muitas horas, se respeitarem (leia-se "puxarem o saco" dos anciãos), "não faltarem no serviço" (estiverem no serviço de campo todos os sábados e domingos, estiverem nas reuniões... nunca reclamarem, nunca questionarem, afinal de contas tudo é rebeldia)... esses, em dois anos, já são anciãos! Agora, se porventura você se afastou por algum motivo, e ficou "marcado" .. passam um ano, dois, três, quatro...e você é sempre visto como aquele "fraco" que um dia "pisou na bola" e não é mais digno de nada.... e aquele que há pouco tempo estava no chamado "mundo" ... esse, sim, tem crédito! Apesar de muitas vezes ser mais versado nesse conhecimento do que muitos desses aí... mas de nada adianta... se você está na Organização e você se afastou, você sempre será marcado por isso... Tive vontade até, certa vez, de mudar-me para outro Estado e começar a estudar com as Testemunhas de Jeová, tenho plena certeza que em dois anos eu já seria ancião.... mas de que adiantaria? Satisfaria meu ego? Porque sou ótimo orador, agradar-me-ia dos elogios que recebia e isso me deixaria feliz? Não... não deveria ser essa motivação. Estaria apenas enganando a mim mesmo, se assim o fizesse. 

     Por causa da pressão da organização, desisti inclusive de tentar me aproximar de uma mulher por quem fui muito apaixonado, mas casar fora do "Senhor" (leia-se casar com alguém de fora da fortaleza da WatchTower) equivaleria a perda dos privilégios, a ser considerado como um fraco, um desprezível que cede às tentações carnais. Acabei me casando com alguém da ‘fortaleza’, para manter as aparências e isso foi ainda pior. Hoje estou aqui, separado... quero encontrar alguém. Mas fico muito triste em saber que também estou violando um mandamento bíblico no qual Cristo disse que o casamento só pode ser dissolvido por fornicação. Mas também, desculpe-me por dizer - não conheço sua opinião a respeito - mas será que Deus quer que realmente vivamos infelizes? Se uma união não dá certo, devemos sacrificar a nossa vida com alguém com quem não amamos e nem temos prazer com a vida em comum? Não sei... há horas que eu fico me perguntando por que uma mudança tão radical .... uma hora você pode ter 700 esposas, não que eu queira ser permissivo, muito pelo contrário. Outra hora, só poder ter uma. Mas eu não discordo disso. O que eu desaprovo é você viver infeliz, não ter outra solução e nunca mais poder viver com outra pessoa. Eu leio as palavras de Jesus. E a pergunta dos apóstolos em seguida - "Então, Senhor é melhor que não nos casemos". Quer dizer, se você é infeliz, se não está dando certo, "que se dane!"... Será que Jeová, Jesus... eles realmente são tirânicos a esse ponto?  Jamais você pode amar alguém  novamente?! 

     Eu jamais traí minha esposa, mesmo vivendo mal com ela. Achava que, se um dia eu quisesse encontrar alguém, deveria primeiro me separar dela, para daí, sim, encontrar alguém. E foi o que fiz. 

     Passados alguns meses da separação, em fevereiro desse ano, os anciãos - por sinal um que se dizia o meu "melhor amigo"  e outro que havia estudado a Bíblia comigo - vieram me ajudar. E fui claro, sabe? Disse que, no dia em que me casasse de novo, não gostaria que eles viessem ao meu casamento só para assinar lá fora os cartões de desassociação.  Já que era meu objetivo encontrar mesmo alguém com quem me casar, alguém para amar novamente e para quem dedicar a minha vida, não ficaria dentro da organização, só esperando o momento que fizesse isso para que eles pudessem me expulsar. Eles me disseram que eu estava agindo traiçoeiramente e que eu não pensasse que, fazendo isso, eu poderia voltar para a organização. Disseram-me que, se eu estivesse copiando (copiando?) alguém que fez isso, que não o fizesse, pois me daria mal. Disseram-me que estava sendo julgado por Jeová e que, a partir daquele momento, não teria mais vida eterna, que seria destruído para sempre. Fiquei com muita raiva e acabei por dizer que eles deveriam se retirar da minha casa. Quando ele saiu, tal qual um profeta das Escrituras Hebraicas (não há como não falar assim, Velho Testamento, depois de tantos anos na WT torna-se uma expressão esquisita)... ele levantou as mãos para o céu, e disse "que seja feita a vontade de Jeová"... o mesmo que “seja feita a vontade da Watchtower”. Não são os dois a mesma coisa? Ele disse "uma pena...uma pena....você não sabe o que está fazendo!"... e foram embora. 

     Duas semanas depois, quando estava subindo pela rua de casa, eles estavam fazendo a sua pregação, e começaram a virar os seus rostos para mim. Eu cheguei em casa e perguntei: "Mãe, alguém anunciou que eu fui dissociado?" Lembro-me de que minha mãe não havia ido na sexta-feira ao Salão do Reino. Eu disse, "estranho, porque, do jeito que eu fui tratado, era como se tivesse sido desassociado. No domingo, eu voltei a perguntar, pois ela foi à reunião logo pela manhã. E, na segunda feira, quando fui ao meu trabalho, na administração de uma loja do shopping, a minha ex-cunhada recebeu um telefonema do filho, que é servo ministerial da congregação a qual pertencia, dizendo: "Mãe, a senhora sabe que o Marcelo se dissociou?".... aí ela se virou para mim... "Você se dissociou, Marcelo?" Eu disse, "eu não sei, estou desassociado?", pois estava mesmo... Não conheço os procedimentos, mas eles deveriam ter dito que na próxima reunião iriam anunciar minha dissociação, ou algo assim, não é? Mas não o fizeram....esperava que alguém me avisasse de algo, não que eu não quisesse, pois deixei claro que queria mesmo me desligar. Mas esperava que pelos menos me avisassem, pois assim já diria para minha mãe. Foi realmente uma bênção que ela não ter ido à reunião no dia do anúncio. Isso poupou-a de muita aflição mental, que sobreviria caso ela estivesse presente àquele dia, na reunião. 

     Mas, sabe, apesar de ter ficado muito triste - afinal são anos que você dedica, horas e horas como pioneiro regular, como servo ministerial, preparando discursos, partes e se dedicando mesmo...tantas pessoas que você conheceu, com as quais conviveu... e ter que apagar tudo, como se apagasse uma parte de você, negasse um parte de sua existência... é estranho... a separação, a dissociação...sendo pai... ver sua filhinha longe .. um casamento muito infeliz .... nossa, agora mesmo estou chorando copiosamente. E ver que tudo aquilo pelo qual se dedicou ... tudo, tudo, tudo... um monte de fezes, de homens que mudam seus ensinos a todo momento, com suas luzes ‘piscantes’, que mandam e desmandam em nome de uma consciência que, se não for a deles, fazem com que você seja alijado da sua "pseudo-segurança" e atirado às trevas, como se fosse um criminoso. Pois é assim que sou visto hoje.... como um criminoso, da pior espécie ... um homem iníquo, que não é digno nem sequer de um simples ‘oi’... 

     Outro dia fui buscar a minha mãe no Salão do Reino e ela vinha  com outra irmã, minha ex-mulher e minha filhinha .. convidei-as para entrar no carro, afinal de contas estava prestando um serviço humanitário. Não é que elas não entraram? Foram apenas minha mãe e minha filhinha, enquanto elas seguiram de ônibus. E se eu fosse motorista de ônibus,  dessem sinal para que eu parasse e só depois de estarem no veículo, se dessem conta que eu estava dirigindo? Mandariam-me parar e desceriam do veículo? É... hoje a gente vê o que realmente a lavagem cerebral faz... e pensar que minha filhinha vai crescer nesse meio. 

     Ah... isso é simplesmente terrível. Mas não quero causar divisão, sabe? Jogá-la contra a mãe ou coisa parecida. Tenho um irmão que é ancião aí... um cunhado que é ancião, minha mãe que está há 35 anos nisso e nem quer ouvir falar caso eu diga qualquer coisa contra a organização. Então prefiro guardar para mim, "deixar quieto"... afinal de contas, sei o quanto as pessoas que encontrava de casa-em-casa se sentiam perturbadas na sua paz quando eu insistia em que aceitassem a Watchtower Então, que eles continuem, já me basta que todos não falam mais comigo... pelo menos meu cunhado não deixou de falar comigo, apesar de ser ancião. É, nem todo mundo concorda mesmo com isso ao pé da letra.... mas, se eu começar a dizer 1% do que a gente encontra aqui, com certeza ele não vai nem querer mais me ver, porque a programação está bem protegida contra qualquer invasão. Qualquer crítica aciona a vacina "Watchtower" ... que o chama de iníquo, rebelde, Satanás e, como tal, precisa ser exorcizado, ou melhor, evitado, "ostracismo absoluto". Eu sei de mim, sei o que é e não quero isso nunca mais. 

     Bem, acho que vou parar por aqui, acho que já escrevi muito... mas se chegou até aqui, obrigado por sua atenção.  

 

 

'Matrix'

Início

N.P., Brasil, 30/10/2000 

 

     A minha história começou quando ingenuamente aceitamos estudar a Bíblia com essas pessoas. Na verdade eu e meu marido não tínhamos nenhuma religião porque não acreditávamos nelas. Não éramos idólatras e nem tínhamos vícios..., presas perfeitas para essa seita! Enfim nos batizamos juntos e iniciamos com toda alegria e fervor nossa carreira "teocrática". Para sermos aceitos no grupo, começa com a imposição de questões que biblicamente ficariam a cargo da consciência de cada um. O comprimento da saia era de 8 dedos abaixo do joelho, questão que as "queridas" irmãs frisavam com orgulho. Esmaltes coloridos... pasmem!- eram hábitos de Jezabel, cabelos curtos ou com tonalidades marcantes eram pedras de tropeço, etc...

     Entramos no ritmo. Pareciam pessoas saídas da mesma forma. A pobre da minha filha com apenas 12 anos batizou-se. É claro com o apoio fervoroso dos pais e da congregação. Até que comecei a me interessar por livros de psicologia, e notei que eu mascarava a minha real personalidade. Foi então que aboli aquelas roupas conservadoras e passei a me vestir de forma mais despojada, sem ser deselegante ou imoral, afinal de contas, caráter não se aprende com religião. Eu já tinha cabelos razoavelmente curtos com a nuca batida, mas o escândalo se deu quando decidi cortar um pouco mais, afinal meu marido e meus filhos aprovaram e o principal: eu gosto!


     Às escondidas e sem entrar em contato com meu marido que na época já era Servo Ministerial, retiraram meus privilégios na Escola do Ministério Teocrático.

     Fiquei muitos meses sem fazer aquilo de que mais gostava: as partes na Escola. Achamos que pelo fato de haver duas congregações se reunindo juntas, as partes se tornariam mais esporádicas... Santa ingenuidade! Fomos realmente notar, quando um ancião em Necessidades Locais, frisou uma revista A Sentinela de 1963 (ou 66?) que tanto os homens como as mulheres cristãs deviam seguir o tamanho determinado do comprimento dos cabelos! Eu queria morrer de tanta  vergonha! As "queridas" irmãs começaram a passar a mão nas vastas cabeleiras para ver se o comprimento "batia" com o que fora falado na tribuna. Ao final da reunião, saí às pressas. Foi uma sensação horrível que eu nunca havia sentido em outro lugar na minha vida!

     Liguei para o ancião e perguntei em que base bíblica ele havia dito tal coisa. Tudo com educação, é claro! Ele, rispidamente, disse que eu não tinha direito de questionar-lhe e que tudo o que fora dito, era para mim.

     Reuni o material e, com muita calma e educação, provei a eles que agiram indevidamente, afinal eu não estava causando problemas a ninguém. Na época, eu tinha 5 estudos bíblicos, 3 das minhas estudantes freqüentavam as reuniões. Meu marido deixou claro que gostava de mim da maneira que eu sou, alegre, vaidosa, franca e com os cabelinhos curtos (risos). Eu queria apenas o respeito da mulher cristã! Depois de várias reuniões, o superintendente veio até a minha casa e me disse que meus privilégios me seriam devolvidos. Eu deveria esquecer tudo isso, passar uma borracha, afinal a tal da IMPERFEIÇÃO reina lá dentro!

     Feliz da vida, achei que tudo estava resolvido. Mero engano! Depois disso, eles nos congelaram espiritualmente. Partes, apresentações, orações, foram negados à minha família!


     Um dia, convidaram todos os jovens e até crianças  para relatarem experiências da escola e somente minha filha e dois "jovens-problemas" ficaram de fora. Até hoje, eu escuto a voz dela me perguntando: 'O que foi que nós fizemos? O que foi que eu fiz?' Comecei a notar que eu era "carta marcada", falei demais e o preço viria. Aos poucos fomos “morrendo”, e nas parcas visitas de pastoreio eu desabafava e na semana seguinte era dada uma apresentação e depois mais nada. Meu marido era um bom orador, uma pessoa super-amorosa, calmo, sincero mas o seu erro fora apoiar uma suposta REBELDE, SUA ESPOSA!

     Nos últimos 3 anos, fomos definhando “espiritualmente”. Minha filha, hoje, com 18 anos de idade, mudou. Antes ingênua e até bobinha, tornou-se desconfiada e com grande dificuldade de acreditar nas pessoas. Criamos uma sebe onde só entra quem confiamos. Tornamo-nos, com o tempo, frias e agressivas quando provocadas. Ganhei de brinde uma doença chamada FIBROMIALGIA, ou seja reumatismo muscular no qual sofri por 2 anos de dores terríveis nas pernas, nos braços e ombros. Causa? Segundo o médico é de fundo emocional, devido algum trauma psicológico, no meu caso, REJEIÇÃO. Para ajudar, nessa época eu havia descoberto que era filha adotiva. Imagine a minha cabeça como ficou.

    A rejeição da congregação continuou até chegar ao ponto de nesses últimos meses, eu e minha filha não sermos convidadas para nada, nem mesmo estudo bíblico, nem revisitas, nenhum telefonema, nada! Éramos estranhos, leprosos espirituais! Pedi ajuda, disse que estávamos morrendo, que aceitaríamos qualquer coisa, convites para revisitas, para estudos, mas nada! Começamos a faltar as reuniões, estudos de livros, mas em nenhum momento, sim, em nenhum momento, essa gente nos viu com olheiras, desarrumadas, cabisbaixas como eles gostam. Não! Eu e minha filha somos muito vaidosas, admiramos o belo, a elegância discreta que mulheres tais como Jackie K. Onassis souberam demonstrar em vida!

     Sempre amamos a Jeová e por isso, apesar de ver certas coisas com que não concordávamos, aceitávamos porque achávamos que nós, sim, nós éramos rebeldes, fracas. Onde já se viu pensar em questionar o uso de Relatórios, o porquê dessas malditas "horas", o poder da hierarquia, o escravo fiel e discreto que recebe o alimento – de que forma? Mensagens, telepatia, aniversários de casamento, despedidas com discurso e rapapés.

     Até que um dia, eu me sentei diante de meu computador e decidi ver os sites dos 'demônios', dos 'renegados', dos 'apóstatas que falam mal de Jeová' etc. etc. Quando comecei a ler o que você escreveu...

     Há uma semana eu pedi minha dissociação, minha filha e meu filho de 11 anos de idade não querem voltar nunca mais para lá. O problema é meu marido; ele está dividido. Ele é muito ingênuo, não sei o que dizer. Ainda não acordou do "transe" desses 10 anos! Graças a Deus, eu e meus filhos estamos livres!

     Esses dias têm sido difíceis para minha família.

    Como eu disse, meu marido ainda está dividido. Ele não conseguiu separar a adoração a Jeová da adoração à organização. Só o tempo vai nos dizer o que será dele. Embora ele não esteja indo ao Salão, sente-se incomodado com a minha alegria e a dos meus filhos. Minha filha não quer entregar a carta de dissociação. Ela me disse não se importar se algum dia for desassociada. Para ela aquelas pessoas são tão insignificantes, a ponto de não merecerem satisfação nenhuma. Acho que ela está certa. Até agora, não sei se foi dado o anúncio da minha dissociação, mas isso também não me interessa.

     Alguns dias depois...

     No dia 25/10/2001, meu marido e minha filha se dissociaram e, graças a Jeová Deus, estamos em paz!!

     É engraçado. Olhando para atrás, parece que tudo foi um pesadelo! Tenho a impressão que nesses 10 anos, eu não vivi lá dentro, as pessoas me parecem estranhas. O que no momento estou sentindo é a falta de educação, de ética, de amor para com aqueles que saem. Pessoas que anteriormente freqüentavam nossa casa, diziam-se nossos irmãos da fé, companheiros leais, dispostos a dar a vida por nós..., agora viram o rosto. Tenho pena. São produto da alienação humana, não possuem mais vida própria, são teleguiados por homens miseráveis! No filme "Matrix", a  dominação mental foi retratada fielmente; são tão judiados pelo sistema, que não estão preparados para serem desligados; alguns jamais  serão! Se você não assistiu, então reserve um tempo e assista!

Até mais.

 

A Justiça dos Homens

Início

 08/12/2001 

 

     Nos chamamos Ellen e José Luiz, somos naturais de São Paulo/SP. Fomos Testemunhas de Jeová por muitos anos e em maio de 1997 pedimos nossa dissociação.

     Saímos da Organização, pois não agüentávamos mais as pressões e humilhações as quais éramos submetidos. Tudo porque resolvemos denunciar as irregularidades que haviam dentro de nossa congregação. 

     A partir do momento que começamos a questionar e denunciar fatos que atingiam não só nossa pessoa como também outras, passamos a receber punições, perseguições, opressões e ridicularizações. 

      Muitas dessas degradações ocorriam por parte do ancião presidente. Isto porque denunciamos a família de seu pupilo e amigo pessoal e que  também era ancião. 

     No princípio esse ancião mostrava-se leal e disposto a ajudar. Reunimos provas dessas pessoas que trazia discórdia na congregação, expusemos os prejuízos que eles causavam a outros, como forjar provas fraudulentas – muitas delas desmascaradas – tudo para conseguir a desassociação de seus desafetos. Eram inúmeras as armações, mas, mesmo com todas essas evidências, juntamos provas documentais irrefutáveis!!!! Porém, todo o trabalho foi em vão. Esse ancião desaparecia com as provas e até mesmo entregava para nossos desafetos!!!! 

     E o pior de tudo isso era que o que falávamos ou apresentávamos virava-se contra a gente. 

     Cansados de lutar contra as injustiças e tendo a certeza de que nada do que fazíamos surtia efeito, resolvemos pedir a dissociação. Entregamos nossas cartas, pois todos nossos esforços para que se fizesse a justiça foi posto por terra e além do mais não tínhamos mais forças para continuar combatendo o mal que ali existia e já estávamos cansados demais de sofrer tanta injustiça. 

     Porém, nossa saída ainda não satisfaria a esse ancião, precisaria ainda mais. Foi então que no mês de setembro/98, dois anciãos recém-designados nos procuraram para nos oferecer ajuda. 

     Vieram em nossa casa com a justificativa de que precisavam do nosso testemunho e informações para concluir o caso e dar a punição a quem merecia de fato e a justiça seria feita mesmo que custasse o cargo de anciãos influentes da congregação!!! 

     O discurso foi convincente, aceitamos participar dessa reunião. E sem nos aperceber fomos atraídos para uma armadilha. A reunião não era para nos ajudar e sim para nos julgarem – era uma Comissão Judicativa!!!! 

     Ao entrar na sala vimos esse ancião que tanto tentou nos prejudicar. Ele estava de cabeça baixa o tempo todo e a comissão estava formada pelos anciãos recém-designados. Ele era o único experiente desse grupo, porém o mais despreparado dos anciãos começou a ler um texto sobre desassociação; ele nem esperou a gente sentar. A pressa era tanta para liquidar o assunto que eliminaram qualquer protocolo. 

     Foi então que interrompemos o que esse ancião estava lendo e lhe dissemos que não participaríamos daquela palhaçada!!! Fomos embora sem esperar o que eles tinham para dizer. 

     Uma semana depois do episódio voltaram em nossa casa para falar com meu marido e como não o encontraram ficaram cercando o quarteirão. Ao vê-lo, o pararam na rua próximo a nossa casa  e o informaram de que tínhamos sido desassociados e que se fosse de nossa vontade que recorrêssemos. Dentro do carro ficaram e nele foram embora como se nada tivesse acontecido. 

     Nunca em nossa vida tínhamos ouvido algo semelhante para um comunicado de uma desassociação e muito menos ser desassociados sem uma Comissão Judicativa. Era inédita aquela situação!!! 

     Mais inédito ainda foi o surgimento de quatro anciãos de outra congregação, dizendo que estavam em nossa casa para nos defender na 2ª Comissão Judicativa. Ficamos pasmos. No principio recusamos a ajuda, depois eles nos convenceram a contar nossa história e após ouvirem ficaram convencidos de nossa inocência!!! 

     Por fim participamos dessa 2ª Comissão Judicativa em 15/11/98, fomos ouvidos por 15 minutos cada um e com os anciãos da nossa congregação despenderam um tempo de 1 hora. E nesse meio tempo saíram dessa reunião para nos mandar embora, pois a conversa seria longa!!! Logo percebemos a manipulação do caso!!!!! 

     Fomos embora sem ser escutados devidamente!!!! 

     No dia 29/11/98 estes mesmos anciãos que tomariam conta do nosso caso estiveram em nossa casa para nos comunicar o resultado da Comissão. E ao perguntar-lhes sobre o motivo de nossa desassociação, nos responderam que foram muitos motivos e que eles mesmos não podiam nos dizer. 

     Como alguém é desassociado e não é lhe comunicado o motivo? Isto não existe!!! Até hoje não sabemos qual foi o motivo da desassociação, a única coisa que nos foi dita é: “Deixem isso para lá, um dia os que fizeram coisas erradas irão pagar. Basta confiar em Jeová”. E foram embora sem mais explicações!!!! 

     Antes que o anúncio oficial fosse realizado procuramos o Superintendente de Circuito para contar todas as injustiças que estávamos sofrendo. Para nossa surpresa, ele nos respondeu que não iria nos escutar e muito menos pegar nossas provas documentais, pois o assunto estava resolvido e se estivéssemos incomodados que procurássemos a Justiça Humana,  pois,  ele tinha  coisas mais importantes a fazer do que perder tempo com isso. Nesse momento ele nos deu as costas e foi embora com a consciência mais tranqüila do mundo. 

     A partir daí, tivemos a certeza que a mentira prevaleceu sobre a verdade. Usaram meios ilícitos, desumanos e degradantes para conseguir provas fraudulentas, sem que os réus (nós) tivéssemos conhecimento dos fatos imputados!!! 

     Afirmamos, portanto, que em todo o tempo que fizemos parte dessa Organização foram usados artifícios para que a justiça não fosse realizada, onde deturparam falas e argüições com o intuito de induzir ao erro, mostrando assim uma conduta criminosa. 

     Muitos de nós somos induzidos e obrigados a admitir erros ou coisas não praticadas para que os verdadeiros culpados não paguem por muitas vezes pertencerem à dianteira. E automaticamente somos forçados à condenação pré-determinada, para que esses protegidos não precisem admitir seus erros, sua arbitrariedade, suas injúrias e fraudes, tudo para que não sejam expostos publicamente seus atos parciais e no mínimo incompetentes para  dirigir um caso ou uma Congregação e por fim não perderem seus cargos de prestígios, pois lhes rendem uma posição de destaque. 

     Para nós restou a desolação, fomos colocados à posição de criminosos, execrados em praça pública. Submetidos a comentários maldosos!!! 

     Uma coisa é certa: É impossível sair dessa Organização sem que haja seqüelas ou traumas propriamente ditos. 

     Muitos de nós na busca da verdade nos deparamos com três estágios:

  1. LUTA: quando tentamos combater ensinos humanos, pois, acreditamos ser corretos interiormente e que deva ser também externamente;

  2. FUGA: é a tentativa de se desvencilhar dos grilhões da Torre;

  3. PARALISIA: a sensação de impotência é maior, e atreveríamos  a dizer, quase um instinto de sobrevivência.

      É nesse estágio que muitos de nós passamos ou ainda muitos passam, pois, assim como os animais paralisam-se para manterem-se vivos, assim ocorre conosco quando vemos que os esforços dessa luta estão sendo em vão. 

     Vem à tona nesse exato momento, o lado sombrio e desumano, dessa luta desigual. Pesamos na balança nossos conflitos pessoais que viveremos após a saída da Organização, que são eles: 

     a) Perda de amigos queridos que nos repudiarão quando colocarmos nossos pés para fora da Organização;

     b) Tratamento desumano;

     c)  Por último o mais aterrorizador: Como será a minha vida fora da Organização?!?! 

     Este último item é o mais pesado dos fardos, pois, tanto tempo enclausurado mentalmente pela Torre  resulta em medo da LIBERDADE E O QUE FAZER COM ELA e como lidar com situações no mundo lá fora onde não existe alguém que nos diga o que devemos ou não fazer. 

     Do mesmo modo se dá com um prisioneiro que passou a vida inteira cumprindo pena e ao sair não sabe o que fazer com sua liberdade e muito menos que caminho seguir! 

     E todos aqueles que se libertaram da Torre viveram esse dilema, tiveram que aprender a caminhar novamente enfrentando seus medos e exorcizando seus próprios demônios. Pois, até então, caminhávamos e pensávamos conforme a Torre. 

     O pânico de passar por essas experiências traumáticas e que nos provocam sofrimentos e angústias nos privam muitas vezes de prosseguir a jornada da Libertação, afinal  de contas, não é fácil passar por isso sem nenhum arranhão.  Mas não podemos deixar que o nosso coração calejado  por tanta opressão vista e até mesmo vivenciada seja ainda mais ferido e machucado. Não podemos parar de buscar a justiça e a verdade, é ela que nos conduz a total Liberdade. 

     Assim sendo, podemos afirmar com todas as letras que nos tornamos vítimas emocionais da Torre, pois, a cada dia que passa pessoas são bombardeadas pela "verdade absoluta" - ditas pelo CORPO GOVERNANTE que  ferem muitas vezes o nosso modo de pensar. Situações essas difíceis de lidar, principalmente quando não vemos saída para tal situação colocada pelo CORPO GOVERNANTE. Esses conflitos internos produzem em nós efeitos negativos, tais como: sensação de impotência, depressão, estresse, ansiedade... Sentimentos esses que nos colocam cada vez mais dependentes da Organização, onde só no aconchego de suas muralhas encontraremos a salvação. Será isso verdade? 

     Fomos e muitos ainda são prisioneiros da consciência, nosso medo de abandonar a Deus nos tornam mais culpados, o que resulta na privação da Liberdade em relação à Torre. Pois, o CORPO GOVERNANTE funde a Organização e Deus, tornando-os como uma única partícula inseparável. Ir contra a Organização é ir contra Deus. Mais uma vez perguntamos, será isso verdade? 

     Acreditamos que não, pois, o Corpo Governante não pode afirmar ser "o dono da verdade". Na melhor das hipóteses deveriam dizer que vivem em busca da verdade, este seria o melhor caminho. 

     Porém, acreditamos que existe solução para todos esses males provocados por essa Sociedade, da qual muitos de nós fomos e muitos ainda continuam sendo vítimas. Essa cura está em nosso alcance, trata-se das muitas Home Pages tais como as do Cid, Odracir, Osarsif, Don Lucca, Luis Lopes, Beto e outros de excelente teor que nos oferecem uma única coisa primordial: A VERDADE! Quem viveu situações tenebrosas dentro da Organização como nós, podem afirmar que os relatos são fielmente descritos, para que não haja dúvidas. 

     Eles nos devolvem a paz de espírito, a coragem, a dignidade e a oportunidade de viver novamente como seres humanos livres e vencedores. 

     Todos os caminhos a serem seguidos são válidos (religiosos ou não), o importante de tudo isso é que: dogmas humanos e arbitrários, baseados em individualismos acabem, pois,  afastam pessoas umas das outras em prol do nada. É o que a Torre fez e faz com muitos que tentaram a Liberdade ao se dissociarem ou até mesmo aos que foram desassociados!!! 

     A Torre em nome da "pureza espiritual da Organização" ataca qualquer pessoa que se mostre avesso às suas idéias ditas como certas e providas por Deus, qualificando-as como pessoas de " pouca ou sem nenhuma fé"! Promove ela (Torre): ódios, rancores, mágoas pessoais entre seus adeptos, em nome do que e de quem?!?! 

     Esperamos que em um dia bem próximo novas luzes venham brilhar e que a Torre traga novas esperanças com a verdadeira justiça e que esse tempo sombrio que foi para muitos de nós faça parte de um passado remoto.  

     E ainda esperamos viver para vê-lo e quem sabe ver alguns membros que ainda farão parte dessa Organização vivendo em harmonia e paz entre si e com outros que não compartilham da mesma religião.   

 

Carta de Dissociação

Início

Ilda Mara Cherem, Brasil, 01/2/2002

Nota: trata-se da transcrição de uma carta de desligamento entregue ao corpo de anciãos das Testemunhas de Jeová em uma congregação no estado de Santa Catarina-BR. A autora nos concedeu permissão para publicar este documento em sua íntegra, incluindo todos os nomes de pessoas envolvidas. 

 

Ao Corpo de Anciãos Da Congregação Estreito -SC

Prezados Senhores, 

                                                       A finalidade deste documento é solicitar minha saída oficial do rol de participantes da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA, entidade esta de que fui membro dedicado por 42 anos, tendo sido batizada no ano de 1974, com a idade de 14 anos. 

                                                       Até meu casamento, que ocorreu em 1979, vivi na cidade de Curitiba-PR, tendo uma folha curricular imaculada de acordo com os preceitos desta organização, tendo servido por muitas vezes como pioneira de férias, e finalmente como pioneira regular, possuindo 24 estudos bíblicos e sendo conhecida como uma jovem zelosa, dedicada, teocrática, cumpridora de todas as regras instituídas por este Casa.

Entrei no casamento confiando firmemente em Jeová Deus, em seu filho, e no Espírito Santo, que é à força de Deus. Felizmente, se for necessário, disponho de uma nuvem de testemunhas que poderão atestar que estas minhas palavras são verdadeiras. 

Acontece que, já no início, detectei problemas conjugais muito sérios, mas como tinha sido orientada por meu pai que o voto marital é uma das coisas mais séries que alguém pode fazer, resolvi encarar os problemas e tentar resolvê-los sozinha, sendo que nem ao meu pai, que era meu confidente até a ocasião de meu casamento, eu contei o que estava começando a observar. 

Acho prudente relembrar aqui o bom nome formado por meu marido neste distrito, coisa que, sem sombra de dúvidas, ele dará a vida para defender. Desde a idade de 19 anos ele é ancião, fato comprovado pelos senhores, que conhecem muito bem a vida e a ficha de cada um de nós. Não só no campo religioso, mas em sua vida secular, é conhecido como uma pessoa exemplar, bom filho, bom marido, bom pai. 

Voltando um pouco ao passado recente, com a idade 24 anos, não suportando mais os problemas, tomei a liberdade de chamar em nossa casa um ancião amigo nosso, Sr OSVALDO FORTES, para desabafar e pedir conselhos. 

Passou uma tarde inteira conversando comigo; me deu muitas sugestões e se queixou de meu marido, contando as dificuldades por que todos os outros anciãos passavam nas mãos dele. Foi embora prometendo que tentaria me ajudar e acredito que tenha feito isto, pois, dias depois, meu esposo me procurou, alegando que eu tinha feito errado, contar para alguém sem permissão do parceiro, coisas que eram só do casal  e que eu, a partir dali, estava proibida de tornar a fazê-lo. 

‘Muito bem, nunca mais vou conter nada’, pensei eu, e continuei sozinha contornando a situação. Gostaria que ficasse bem claro que não estou aqui me colocando no lugar de vítima ou de alguém que não tem falhas ou defeitos, tenho muitos como todo ser humano e que certamente são difíceis de suportar numa vida a dois. 

Os anos passaram, os problemas persistiram e passaram a ficar maiores, coisas com a qual eu não sabia como lidar e somente orações não estavam resolvendo. Estes problemas passaram a se estender também em relação à família de meu marido, que, sem eu saber, interferia  no seu trato comigo e as proporções foram ficando, deveras, difíceis de serem mantidas dentro do limite. 

Novamente, e agora desobedecendo à ordem explícita recebida dele, procurei outro ancião,  estava com 35 anos. Foi o Sr MANFRED BOER,, desta vez, me muni de uma sacola e coloquei dentro dela a prova do grave problema por que passávamos. Raciocinei que, se estas fossem observadas, não teria o porquê de não acreditarem em mim. 

Ele me ouviu atentamente, (o lugar escolhido foi sua sala, em seu serviço secular) e, para minha surpresa, disse, olhando nos meus olhos: ‘Irmã, não posso acreditar e nem aceitar o seu relato, pois ele é uma pessoa maravilhosa, não acredito que tenha assim se sucedido, isto certamente é coisa que a irmã está inventando’. 

Os anos passaram os problemas continuaram se agravando cada vez mais, até que finalmente tive a comprovação de que eu não estava inventando nenhum destes fatos. Numa saída de campo, minha cunhada Elizabeth Cidade Cherem, com a consciência muito pesada, pediu para conversar comigo sobre coisas que vinham acontecendo já por 14 anos, tornando sua carga muito grande para carregar. Seu relato foi franco e sincero, e isto me deu forças para mais uma vez tomar uma atitude, pois sua confissão relatava envolvimento de minha cunhada, MARIA HELENA CHEREM, em nossos problemas conjugais. 

Desta vez, decidi procurar a irmã LURDES S. DUARTE, pedi que viesse a minha casa e contei-lhe tudo desde o início, que precisava urgente de ajuda e que a situação não poderia mais permanecer como estava. 

Em minha vida, acredito ser a pessoa mais ponderada e madura que conheci. Ela se ofereceu para ir comigo a mais um ancião e novamente pedir ajuda, pois a situação estava muito séria. Marcamos um dia com este senhor em seu escritório, certas de que agora receberíamos a devida atenção. Esta pessoa chama-se ALBERTO RODRIGUES. Desta vez, as condições eram diferentes, pois eu havia levado uma testemunha e, quando iniciei meu relato, ficou branco como papel, levantou e disse: ‘irmã, por favor, pare imediatamente de falar. Primeiro, porque estou chegando agora a este salão, segundo, porque este problema é grave demais, ele deve ser tratado por um superintendente de circuito, terceiro, porque a Sociedade aconselha a ter mais de um ancião presente para conversar, e, quarto, porque eu sou muito novo para ouvir este tipo de problema.’ 

Eu me levantei, e, mais branca que ele, perguntei: ‘Quantos anos tem,  Alberto?’ Ele respondeu: ‘39’. ‘Muito bem, Lurdes vamos embora, eu procurei a pessoa errada’. 

Voltei para casa arrasada e caí em profunda depressão, que foi aumentada pela morte de meu pai, eu estava com 38 anos. Fiquei de cama em quarto escuro e iniciou um processo de emagrecimento muito forte. É válido aqui mencionar que havia me submetido a uma longa cirurgia de 7 horas de anestesia, há poucos meses atrás deste episódio, o que pode ter contribuído para o agravamento do quadro. Mas, sem sombra de dúvidas, meu estado se devia ao acúmulo de problemas aparentemente sem soluções, que se impunham diante de mim, os quais não via maneira de resolver sem ajuda. 

Recebi, nesta ocasião, a visita de um primo meu, que percebendo que a semana inteira eu não saía da cama, ligou para sua mãe (irmã da minha) e relatou o que vira, achando que alguém precisava fazer alguma coisa, talvez vir alguém de minha cidade para me cuidar, minha família ainda nada sabia, nem os filhos, com toda certeza. 

Meu marido, sendo médico, como é do conhecimento dos Srs., também percebeu que eu não estava bem e amorosamente me colocou no colo dizendo que tinha me analisado como médico, que na opinião dele eu precisava talvez de ajuda profissional, e sugeriu um amigo seu, alguém de sua confiança, para fazer análise psiquiátrica. Penso que nesta ocasião, ele deveria ter também se analisado, coisa difícil de fazer,  pois ele ainda acredita que somente eu tenho a culpa de todos os nossos problemas  (mais tarde, já separados, meu marido passou a fazer acompanhamento psicológico em SP, com a irmã CLAUDIA DOZZY, esta me chamou até seu consultório por duas ocasiões, comprovando que o quadro necessitava de muita ajuda e que, realmente, por ocasião de minha saída do lar, corria risco de vida, sim, sendo que meu marido não tinha condições de lembrar o que fazia, estando sob efeitos dos remédios que tomava, ele se automedicava e no dia seguinte, negava tudo que houvesse feito então). 

Aceitei, pois não estava mais agüentando a situação, e passei a fazer 2 consultas semanais, ele receitou remédio para dormir, ou calmante, não tenho condições de afirmar quais, pois não me lembro. Bom, se juntarmos todos estes relatos, e acrescentarmos ainda remédios fortes, imaginem como eu fiquei. 

Ao final de 4 meses , eu estava com 47 kg, como uma caveira, e todo este tempo sem ir ao Salão do Reino. 

As únicas visitas que recebi, foram: RENATO DOUBEK, meu primo, que estivera me visitando e achou que estava acontecendo alguma coisa, LURDES S. DUARTE e ORIVALDA LIMA SILVA. Esta última, afastada da Org. já por muitos anos, mas grande amiga minha. 

Quando esta amiga me viu naquele estado, teve um grande choque e disse : Você não é nada disto que estou vendo aqui, o que está acontecendo com você? Ela foi a próxima pessoa, depois da Lurdes, a ouvir com detalhes toda a história, sem cortes, e achou que algo deveria ser feito imediatamente. 

Sugeriu que eu parasse imediatamente de tomar os remédios e fez uma reunião em sua casa com dois anciãos , um deles seu irmão carnal, muito amigo nosso e especialmente de meu marido, e o outro, muito amigo também, ex-estudante de meu esposo. Seus nomes, respectivamente, são: VOLNEI ROSA LIMA E MÁRIO ROCHA. 

A reunião foi feita, estando presentes os dois anciãos, eu e  Orivalda. Novamente, todo o relato foi feito, também sem cortes, pois eu confiava plenamente que, sendo uma reunião de anciãos, nada daquilo sairia dali. 

Desta vez, eu portava, além de minha testemunha, uma carta de dissociação escrita de próprio punho, sem interferência de ninguém e em plenos poderes de minhas faculdades mentais, sim, Senhores! No início do relato, o Volnei ficou muito nervoso e prontamente passou a defender seu amigo, sofrendo neste instante a interferência de Valda, que lhe perguntou se ele já ia começar a julgar sem ouvir toda a história. Reiniciei meu relato e ambos ouviram com muita atenção, fazendo algumas perguntas neste ínterim. 

O Volnei recebeu minha carta e disse: ‘Bem irmã, eu não vou receber esta carta, pois aceita-la seria o mesmo que admitir culpa, pecados, e a irmã não pecou, não é mesmo? E em segundo lugar, ‘ ESTE CARGO, ESTA POSIÇÃO E ESTA ORGANIZAÇÃO SÃO TODA A VIDA DO MÁRIO, NÃO PODEMOS TIRAR ISTO DELE.. Vamos, portanto, rasgar sua carta, e a irmã vai tentar ajudá-lo conversando bastante, tentando resolver seus problemas sem ser tão radical. O outro chorava copiosamente. Não iremos relatar a ninguém o que conversamos aqui’. 

Voltei para casa novamente sem saber o que fazer e então, numa tarde,  sem me arrumar mesmo, fui até o FORUM do Estreito e pedi para falar com o juiz. A moça que me atendeu foi muito bondosa e explicou-me que, para falar com um juiz, precisamos marcar audiência, ao que respondi: ‘Senhorita, é caso de vida ou morte’ (ela deve ter acreditado devido a minha aparência). Conduziu-me aí a uma Promotora que me recebeu, sendo, portanto, a primeira pessoa fora da Org. a quem me dirigi com aquele imenso problema nas mãos. 

A primeira pergunta, após ter tomado meu nome e endereço, foi: ‘Por que você suportou tudo isto por tantos anos, a maioria das pessoas pede separação até se a pasta de dentes for espremida na metade’. Olhei bem em seus olhos e respondi: ‘Porque eu prometi para Meu Deus e não posso quebrar uma promessa que fiz a Ele, mas agora eu não estou agüentando mais, se não fizer alguma coisa, não vai sobrar a pessoa que fez esta promessa’. 

Fui encaminhada para uma advogada, que iniciou o processo de divórcio, com pronta separação de corpos, pois foi alegado e entendido pelo juiz que meu marido, quando fechava com a chave a porta de nosso quarto, não estava de posse de suas perfeitas faculdades mentais, e a prova disto ficou anexada ao processo, a mesma que eu, com 35 anos, havia apresentado ao Sr MANFRED BÓER.. 

Digno de nota é ficar registrado que meus filhos nada sabiam destas coisas, pois, por formação que recebi, acredito que a família é o bem mais precioso que um homem pode ter. Não queria destruir a imagem que meus filhos faziam do pai, que é,  sem sombra de dúvidas, uma pessoa muito boa, mas com problemas que precisavam da interferência de um profissional. 

Tudo foi feito e me mudei para Curitiba, deixando o lar por ordem do juiz, e uma carta para  cada um de meus filhos e também ao meu marido. Claro que não deu certo, pois eu jamais havia me cuidado sozinha, após 9 meses voltei, convidada por meu marido, com muitas promessas de que agora viveríamos felizes finalmente. 

Muitos detalhes de todos estes acontecimentos estão ao dispor dos senhores para verificação e comprovação, inclusive o esforço feito pelo Mário, até financeiro, para que eu voltasse, não mediu esforços, foi diligente e prestativo. 

                                                         Ao voltar, percebi que meu filho apresentava problemas e achei tratar-se de algo ligado à idade e a passagem para a vida adulta, marquei consulta com uma psicóloga, Sra CARLA REGINA CARDOSO, da clínica GERON . Passados uns dois meses, ela pediu para conversarmos sobre ele. Disse haver percebido que o Ricardo apresentava perturbações psicológicas e que não estava vivendo a vidinha dele, mas antes a vida de adultos dos pais, que seus assuntos eram só relacionados ao casal, e que isto estava prejudicando muito seu desenvolvimento, pois ela não sabia há quanto tempo isto estava acontecendo. 

Indaguei ao Mário se ele estava de alguma forma influenciando meus filhos contra mim, e se contava problemas pessoais nossos aos mesmos (eles existem são muitos e estou aberta à conversação com testemunhas). 

Ele disse mencionar algumas coisas “de leve”, e que, se as crianças me tratavam mal, era somente por causa de meu comportamento atual, que cada um de nós deve ser responsável pelas conseqüências de nossos atos, que não tinha culpa absolutamente pela maneira como estava sendo tratada por eles. 

Acreditei novamente, não sem ficar intrigada com a forma que meu filho (principalmente ele) e as meninas estavam me tratando, senti que eles estavam sabendo de muita coisa, senão como poderiam fazer julgamento e me condenar com tamanha precisão? 

Tudo isto permaneceu assim, até o dia 22 de março de 2001, quando tive uma briga com meu filho que, sem querer, mencionou: ‘O pai me fala tudo o que você faz, mãe, pensa que eu não estou sabendo?’ 

Senhores, eu acredito que, quando há uma acusação, ela deve ser baseada em provas e que a pessoa acusada fique sabendo do que se trata para poder se defender. Perguntei ao menino, meu filho, ‘diga para a mãe, o que é que eu faço de tão grave para que você esteja me odiando tanto (minha vida não está sendo fácil nestes 2 anos que retomei)?’. Ele respondeu: ‘A mãe pensa que eu vou contar, para depois você dizer para o pai e me jogar contra ele?’ 

Tenho vivido em clima de tensão nestes dois anos, tendo perdido coisas valiosas e que me pertenciam por direito, tais como respeito, confiança, o lugar de dona da casa e a autoridade perante meus filhos. 

Por me sentir estes anos todos abandonada por aqueles que se dizem pastores de Cristo, cavernas rochosas para onde podemos correr para nos abrigar na hora de provação, por ter assistido sua deslealdade aos princípios de Jeová de justiça, pelos ouvidos surdos que mostraram fazer, pelo medo de criatura que impressionantemente demonstraram, não acredito honestamente que sejam qualificados por Jesus como pastores de ovelhas. Pelo contrário, estão muito mais parecidos com os fariseus dos dias de Jesus, que tanto eram repreendidos por Ele. 

Portanto, preciso romper de vez meus vínculos com esta Organização para poder finalmente viver em paz, condição a mim negada já há 22 anos. 

Como tenho medo que a carta seja novamente rasgada, ela agora esta sendo enviada por meu advogado SR.  VALDIR TEIXEIRA DE LARA, pessoa de minha confiança, que se encarregará, a partir de agora, de fazer valer a lei, pois sou cidadã deste país e tenho assegurado o direito de pertencer ou não a esta ou aquela sociedade. 

Passarei a enumerar algumas perguntas que precisam de respostas urgentes: 

1- Sendo o Mário um membro efetivo desta Sociedade, e também membro da Sociedade Jurídica TORRE DE VIGIA, leal, dedicado, que não mede esforços nem físicos nem financeiros para honrar esta dita sociedade, não mereceria ajuda desde a primeira vez, quando procurei o Sr. Osvaldo? 

2- Quando anos depois, ao ver tudo que tinha acontecido, o Sr Manfred Boér me disse ao telefone: ‘Ilda , nós falhamos com você, o Mário é muito poderoso, temos todos medo dele, isto não mereceria uma investigação mais detalhada por parte de todos os anciãos, que ouviram o relato?’  Preciso mencionar o nome dos outros que foram procurados após a separação: SR JAMES KORB, meu cunhado, que sem minha permissão (pois havia sido procurado na qualidade de ancião), contou ao SR ISMAEL BUENO FERREIRA, que, também sem permissão, contou ao Superintendente Viajante, SR JÚLIO CODESSO, que me escreveu uma carta malcriada, dizendo que realmente quando visitou nosso salão, tinha percebido que eu não era de fato nenhuma fortaleza, pergunto, como ele sabia, se estava chegando agora, nunca tinha me visto, nem comido comigo à mesa, como ele tinha condições de me avaliar e dizer se eu era isto ou aquilo? O SR JACSON BARRETO, ancião em Curitiba, e meu amigo de infância, que é testemunha de meu casto comportamento até a idade de 21 anos, quando me casei e mudei de cidade. O SR. MICHEL KAFROUNI, ancião em Curitiba, ambos estiveram comigo em mais de uma ocasião com o intuito de ajudar e ouvir o que havia acontecido, não foram procurados por mim em busca de ajuda. O SR. JOÃO TOMIO, ancião em Curitiba e amigo de longa data, que ajudou inclusive na reaproximação do casal. O SR CLÁUDIO BORBA, o SR WILSON SILVA, ambos reunidos comigo para um contato oficial depois de meu retorno ao lar, pois eram anciões em nossa Congregação. 

3- Se por ocasião de minha depressão eu fiquei 4 meses sem ir ao SR, isto não seria um motivo muito forte, para o Sr Alberto verificar o que estava acontecendo com aquela publicadora que não estava indo mais às reuniões e que o havia procurado junto com outra irmã, para relatar um assunto sério pelo qual estava passando? Será que como membro desta Sociedade eu não merecia uma visita de pastoreio para averiguação de minhas faltas no serviço de campo e reuniões? 

4- Será que todas as pessoas em Curitiba, que me procuraram, inclusive meus familiares, não poderiam ter feito uma comparação entre as duas Ildas, a que viveu 21 anos em Curitiba e a que viveu 22 em Florianópolis? Percebendo fatalmente que meus atos não poderiam ser inconseqüentes ou de rebeldia, mas que algo deveria estar acontecendo de muito grave, para uma mudança tão brusca, tão traumática? 

5- Passados dois anos de meu retorno, será que minha falta não seria motivo para que tudo que aconteceu fosse analisado e fossem identificados  problemas, recebêssemos ajuda especializada de anciãos  preparados e interessados pelas ovelhas do Senhor? 

6- Será justo, diante de meus filhos e de toda a comunidade dita cristã, todos estes fatos estarem distorcidos, tomando-me eles por irresponsável, inconseqüente, pessoa que não ama mais a Deus, afastada da Organização e, portanto, não digna de ser incluída, como disse minha filha do meio, fazendo em lugar público a afirmação de que eu era excluída sim, porque eu merecia.- acontecimento assistido por uma amiga que se encontrava presente e depois me procurou para perguntar porque ela me agredia assim, e porque eu chorava tanto? 

7-. Que tamanho tem a culpa de sangue destes 11 anciãos, a quem procurei na qualidade de ovelha do Senhor, pedindo, ou melhor, implorando ajuda, desesperada, quebrantada? Tomo a liberdade de a eles (com minha cabeça encoberta) mostrar o texto de Ezequiel 34:15-28, por favor, Srs., para compreenderem o que falo, leiam o texto na íntegra. 

8- Que resposta darão ao Senhor do Universo quando lhes for cobrado meu sangue, pois agora estou fora da Salvação (segundo o conceito da Torre de Vigia), e Jeová, segundo Ezequiel 3:18 assim o fará,(meu sangue terá que ser reclamado) a quem cabe agora a culpa de meu afastamento somente a mim? Não era eu uma ovelha que havia caído no buraco e precisava de ajuda? E quanto ao que Jesus falou em Mateus 12:11-12? 

9- Como fazer agora com a minha atual situação de morte espiritual (novamente segundo o conceito da STV)  e impedimento até de fazer orações, de ler a Bíblia Sagrada, que foi minha companheira por 42 anos? Quem ficará com a culpa disto perante Deus, eu sozinha? 

Por conhecer profundamente a Bíblia Sagrada e lembrar das palavras do apóstolo Paulo em Romanos 13:8, “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto que vos ameis uns aos outros, pois quem ama o seu próximo tem cumprido a lei”, cheguei à conclusão de que as Testemunhas de Jeová não podem absolutamente estar com a verdade, pois este mandamento de Jesus, identificaria a religião verdadeira e, honestamente falando, não encontrei este amor em suas fileiras, somente pessoas preocupadas em cumprir desesperadamente sua cota de horas e vigiarem-se uns aos outros, sendo que, no meu caso, promoveram intenso falatório em duas cidades, destruindo o bom nome que, nestes anos todos, meu comportamento cristão havia formado (falo do grupo como um todo, pois conheci pessoas muito boas ali dentro, não posso e nem vou generalizar). Este fato é observado por muitos, inclusive milhares que ainda estão ali dentro, vitimas, de uma série de barbaridades feitas a eles que comprovam não ser praticado ali o amor que Cristo ensinou. 

Não creio ser próprio neste momento acrescentar tantas coisas que vi durante minha vida como Testemunha de Jeová, que também poderiam atestar que esta Organização não pode ser aquela que a Bíblia Sagrada descreve como verdadeira, seus muitos ensinamentos são contraditórios, suas novas luzes, um vai e vem de entendimentos, e com isto milhares de vidas perdidas nas incontáveis decisões tomadas por conta deste inexplicável acender e apagar de luzes. Minha consciência não me permite continuar fazendo parte deste festival de contradições, erros, falta de amor, e mistério. Sim, mistério, pois porque não contarmos a todos honestamente tudo, mais tudo mesmo, como inclusive são orientados os anciãos de maneira diferente dos publicadores comuns, para esconderem do grande público procedimentos que se afastam da justiça, clareza e direitos humanos. 

Nego-me terminantemente a ser tachada como apóstata sendo que para defender meus direitos de expressão, usarei a lei de nosso país a meu favor, também rejeito que imputem motivos ocultos a esta minha decisão, pois devo lembrar que qualquer acusação terá que ser precedida de provas e que, se houver dano moral a minha pessoa, recorrerei aos tribunais para a devida compensação, acrescida as taxas referentes a trabalho prestado por exatos 36 anos sem remuneração, visto terem me feito crer que era para Meu Santo Deus que eu trabalhava. Acredito que então, desde o início,  este assunto deveria ser tratado com o respeito e seriedade que merecia. Meu desligamento, portanto, deverá ser dito: por vontade própria, que os Srs chamam de dissociação. 

Rejeito também que duvidem de meu amor ao Deus do Universo e em seu Filho Jesus Cristo, como também em sua força onipresente, o Espírito Santo. Que fique, portanto, entendido que esta minha decisão prende-se ao fato de minha pessoa ter sido vergonhosamente abandonada por seus líderes. Estando, por todos estes anos, servindo como membro cadastrado desta Sociedade, trabalhando por ela,  era imperativo que meu assunto fosse tratado com respeito, seriedade e competência, já que tinha sido arduamente submetido a vosso escrutínio e curiosidade. 

Sendo só o que se apresenta para o momento, reitero meus protestos de elevado respeito a Vossa posição, por entender que cada um tenta realmente fazer o seu melhor, se houve falhas, que sejam julgadas pelo Deus Jeová. 

Sinceramente, 

Ilda Mara Cherem

 

 

 Página em Constante Atualização

 

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